sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Um amor pra recordar

Oi pessoal, tudo bem com vocês? Espero que sim!

O réveillon está cada vez mais próximo, faltam menos de quatorze dias para 2016 e, não sei porquê, sempre fico aflita e nostálgica nesse período.

É uma mistura de emoções opostas. Frustração e felicidade, ansiedade e calmaria, desentusiasmo e animação, saudade e... Saudade.

Meus bisavós faleceram em 2012 e minha bisavó, Natalice, fazia aniversário dia 25 de dezembro. Queria guardar a história deles pro dia primeiro de janeiro, porém hoje eles estão tão vivos na minha mente que não consigo escrever ou pensar em nada que não os envolva.

Eles eram um casal bem tradicional. Meu bisavô, Armindo, sempre trabalhou para sustentar a família e minha bisavó cuidava da casa e costurava. Eles eram evangélicos e quando meu vovô não estava de bermuda marrom e camisa branca, vestia roupa social e colocava a bíblia debaixo do braço.

Não sei exatamente por quantos anos foram casados, mas ultrapassou os sessenta. Tiveram seis filhos, dez netos e nove bisnetos.

Eles me contavam que saíram da roça ainda muito jovens para construir uma família, porém nunca esqueciam de mencionar o nome de sequer um parente dos muitos que tinham. Enquanto eu ouvia a história conseguia perceber a gratidão e o orgulho no olhar deles... Era incrível.

Poderia ficar aqui por horas falando sobre cada detalhe e ainda assim não haveria como expressar tudo o que eles foram e são na vida de cada uma das pessoas que tiveram a sorte de tê-los por perto, por isso hoje quero compartilhar com vocês uma situação específica e - de certa forma - recente que me tocou profundamente na época e continua tocando hoje.

ANO NOVO DE 2011, CONTAGEM REGRESSIVA PARA MEIA-NOITE.

A família toda se reuniu na casa dos meus bisavós e fizemos uma ceia simples. A maioria estava na varanda enquanto eu, meu pai e meu biso ficamos sentados no sofá da sala, assistindo a contagem regressiva na Globo.

10, 9, 8, 7, 6...

Eu tinha 15 anos e não estava nada feliz por motivos fúteis. Hoje, com quase 20, me dou conta que aquele foi um dos melhores momentos da minha vida e - sem dúvidas - a melhor virada.

5, 4, 3, 2, 1! Feliz 2012!

O primeiro abraço do ano foi no meu vôzinho. Levantei, o abracei, fui falar com meu pai e depois a avalanche de parentes começou a estender os braços. 

Oramos - como de costume - na varanda e no final da oração a futilidade me ligou. Fui para o corredor atender e no final da ligação me deparei com uma cena inesquecível que me emociona até hoje.

Meu bisavô - que não participou da tradicional oração - estava no quarto com a minha bisavó. Ele deitou do lado dela e ficou fazendo cafuné enquanto a olhava com atenção e amor. Desabei.

Minha bisavó tinha alzheimer e àquela altura a maldita doença já a havia feito esquecer de tudo.

"A doença de Alzheimer é uma doença do cérebro (morte das células cerebrais e consequente atrofia do cérebro), progressiva, irreversível e com causas e tratamento ainda desconhecidos. Começa por atingir a memória e, progressivamente, as outras funções mentais, acabando por determinar a completa ausência de autonomia dos doentes. Os doentes de Alzheimer tornam-se incapazes de realizar a mais pequena tarefa, deixam de reconhecer os rostos familiares, ficam incontinentes e acabam, quase sempre, acamados. É uma doença muito relacionada com a idade, afetando as pessoas com mais de cinquenta anos. A estimativa de vida para os pacientes situa-se entre dois e quinze anos."

Nós, como netos e bisnestos, sofríamos muito. Ela não nos reconhecia mais, achava que queríamos machucá-la e em alguns momentos era agressiva... Completamente o contrário do que costumava ser. 

Precisávamos insistir muito para que ela tomasse um remédio, pois achava que era veneno. Implorávamos para que ela se alimentasse, mas nem todos os dias conseguíamos porque ela pensava que a comida estava envenenada. Algumas vezes tivemos que forçá-la, literalmente, a tomar banho por causa do odor. Assistimos a mulher forte e guerreira que sempre cuidou de nós perder a identidade e a dignidade.

Se já era difícil pra nós, era pior pra ele. Como um marido que dorme e acorda com a esposa há mais de sessenta anos lida com essa situação? Ela esqueceu dele também.

"Eu? Casada com você?! Maluquice!"

No começo eles ainda dormiam juntos, porém depois passou a ser impossível. A memória dela foi apagada gradativamente e, infelizmente, com sucesso.

"Bellinha, por que você tá chorando?"
"Meu avô tá lá no quarto com a minha avó..."

Mas nos primeiros minutos do ano de 2012 ele fez questão de estar com ela, a companheira dele. E eu li (sim, li) aquela cena como: "e daí que ela não lembra de mim? Eu a amo e estarei por perto até seu último suspiro, pois o que importa é ela estar aqui... E nenhuma doença mudará isso."

E foi exatamente isso que aconteceu.

É claro que a doença dela o entristecia, mas ela continuava ali. Mesmo que apenas com pequenos lapsos de memória ou às vezes somente fisicamente, estava ali!

Dia 20 de fevereiro de 2012 deixou de estar. 

Aos 93 anos Dona Natalice teve uma parada cardíaca e faleceu. A partir daquele dia o olhar do senhor Armindo mudou, ele era um homem incompleto e jamais seria o mesmo novamente.

Conhecemos meu avô frágil como ele nunca nos permitiu ver... Porém mesmo na dor foi um exemplo de força. Teve dois AVC's e resistiu bravamente! Continuou andando, falando (mesmo com dificuldade) e com muita vontade de viver.

Porém a saúde começou a complicar ainda mais e ele precisou fazer uma cirurgia. 

Não esqueço da última vez que o vi. Ele estava no CTI do hospital, estendeu os braços chorando e disse: "minha netinha!" 

Acho que nunca vou conseguir lembrar disso sem chorar.

No dia 18 de outubro meu anjo faleceu, aos 83 anos, na mesa de cirurgia. A médica nos deu a notícia em prantos dizendo que tentou o ressuscitar por mais de vinte minutos. Mas ele já tinha encontrado a minha vózinha, com memória, no céu. 

Foi, de longe, a pior perda da minha vida. A que me arranca lágrimas dos olhos e dá um nó na minha garganta até hoje. 

Alguns meses depois li o livro "Jesus, o maior psicólogo que já existiu" e uma frase escrita nele fez com que eu entendesse e aceitasse:

"Parceiros amorosos de uma vida inteira morrem com poucos meses de diferença."

Oito meses. Duas perdas irreparáveis. Uma lição pra levar pra vida toda. Um exemplo a ser seguido.

Depois deles nossa família nunca mais foi a mesma... E nem será.

<3

<3

Da esquerda pra direita: tio Niti, Luciano (fazendo 2, marido da minha prima), Luan (priminho bebê), Nathália prima (morena), tia Marcela (loira), vovô Armindo, eu, Sheila prima (blusa verde) e meu paizinho.

Minha rainha!

Minha bisavó já tinha falecido... Comparem esse olhar com o olhar das fotos anteriores em que ele está ao lado dela.
Me perdoem por não conseguir editar as fotos, muito mal consegui finalizar o post. Espero, de coração, que vocês possam tirar algum proveito desse relato que - apesar de parecer grande - não faz jus nem a metade do que meus avós representam pra nós.

QUE EM 2016 VOCÊ POSSA VALORIZAR MAIS QUEM VOCÊ AMA E OS MOMENTOS QUE SÃO REALMENTE IMPORTANTES, POIS HÁ VÁRIAS COISAS ALÉM DA MORTE QUE ESTÃO AÍ PARA NOS MOSTRAR QUE NADA É ETERNO NESSA TERRA. 

Até a próxima.

Último natal e último ano novo com eles.

30 comentários:

  1. Me emocionei ao ler seu post, também meus avós faleceram, hoje só tenho minha vó materna e sei exatamente oque você sente linda!
    Bjoos.

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  2. Confesso que não consegui terminar de ler seu depoimento sem chorar.
    Achei muita coragem sua expor algo tão delicado e pessoal aqui no blog.
    Primeiro de tudo, eu achei lindo a atitude do seu avô, mesmo com a doença terrível e triste que é o Alzheimer da sua avó, ele em momento algum desistiu dela e nem a abandonou. Isso mostra que é amor de verdade, um sentimento que hoje em dia é tão raro de achar.
    Até imagino sua emoção ao lembrar essa cena bonita e triste ao mesmo tempo, o que nos resta é a saudade. Infelizmente as pessoas que amamos não permanecem para sempre, infelizmente elas se vão com o tempo. Porém eu acredito que elas estão num lugar bom, sendo felizes.

    Sua história me lembrou aquele filme: Diário de uma Paixão.
    Acho lindo porque o personagem não abandonou o amor de sua vida enquanto ela tinha Alzheimer. E quando ela morreu, ele foi junto também. <3

    Eu amei a sua mensagem, e pode ter certeza que eu vou dar mais valor para minha família, aproveitar os momentos bons e demonstrar sempre o meu amor por cada um deles.
    Beijos. ♥

    Diário da Lady

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    1. Oi, Lady!
      Decidi compartilhar essa história para poder registrá-la e também para tocar quem a lesse.
      Meus bisavós foram incríveis, tanto como casal quanto individualmente, e achei que mereciam um espaço aqui já que falo sobre a minha vida.
      É importante que não esqueçamos que o amor existe e está tanto nas coisas complexas quanto nas simples: Amar é ficar.
      É realmente muito emocionante pra mim pois essa cena ocorreu uma semana antes do falecimento dele... Eu o visitaria um dia após a fatal cirurgia.
      É bem semelhante mesmo, mas menos poética quando analiso o sofrimento do dia-a-dia. Pensei em colocar o nome do filme como título do post, mas não gosto de usar o termo paixão quando me refiro a eles.
      Fico feliz que tenha gostado e que ela tenha te motivado à valorizar ainda mais quem você ama!
      Beijão.
      <3

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  3. Ô Bella, que história linda! Linda porque inspira bastante, um amor assim. A saudade é um bicho que dói, mas fico feliz de você ter tido a graça de conviver com eles e testemunhar esse amor. Também fico feliz por você ter tido a sensibilidade de escrever um texto tão lindo e pessoal pra dividir a história da sua família com a gente, muito obrigada por isso. Imagino que deva ter sido muito difícil pra você, pro seu avô e pra toda sua família esse processo de esquecimento que o Alzheimer trás. Mas sei que sua avó está viva e em sua melhor forma aí dentro de você. E seu avô também.

    Um abraço com muito carinho,
    Heey, Maria! | Fanpage

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    1. Lindeza demais mesmo! Triste pra nós porque os perdemos, mas feliz por termos testemunhado e, de certa forma, sido frutos desse amor.
      Decidi expor isso porque hoje em dia estamos preocupados com coisas não tão importantes quanto o principal: Nossa família. Ler algo assim pode ser o choque de realidade que alguns precisam.
      Foi muito difícil, não só pelo trabalho que deu, mas também por ter sido bastante doloroso assistir uma pessoa que sempre cuidou de nós morrer ainda viva. Foi pesadíssimo, Ray.
      E sim! Estão vivos e eternizados ao lado do Pai e em nossos corações.
      Muito obrigada pelo seu comentário e grande beijo! <3

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  4. Chorei :(

    Seu Biso faleceu no dia do aniversário da minha princesa...

    A história deles é linda mesmo, e é impossível não se emocionar.

    Que seu 2016 seja maravilhoso minha linda.

    Beijo !

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    1. Sua filhinha?
      Impossível mesmo, pra mim então...
      Muito obrigada, querida! O seu e de toda a sua família também!
      Beijos!

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  5. Postagem encantadora amei, tenha um final de semana abençoado.
    Vídeo Novo: https://www.youtube.com/watch?v=0r34Wc33xns
    Blog: http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/

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  6. Que bacana este post Bella. Ameii! Emocionante. beijos
    www.vestidoetenis.com

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  7. Muito emocionante esse post, devemos sempre valorizar os momentos em que passamos juntos com as pessoas que amamos, pois depois que partirem não terá outra vez.

    Flores ao Chão

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    1. Exatamente essa mensagem que quis passar! Fico muito feliz por você ter captado! Beijão!

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  8. Nossa que historia linda
    Temos sim valorizar o hoje pessoas estão nosso redor
    Porque amanha é outro dia
    Parabéns por compartilhar com nós este historia tão incrível da sua familia

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    1. Isso! A gente nunca NUNCA sabe o que nos aguarda.
      Obrigada por ter lido! <3

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  9. Caracaaaaaaaaa Isa, eu chorei lendo o seu texto, foi emocionante demais e eu sou uma pessoa que chora muito fácil. Não consigo imaginar a sua dor, perder duas pessoas tão próximas em tão pouco tempo. Mas realmente a frase em que você leu no livro está certa, até porque tudo que ele queria era ter ela por perto, e agora eles estão juntos, olhando vocês e protegendo. Infelizmente a gente não da valor aos momentos da vida e depois percebemos o quanto era bom, é o ser humano.

    Beijos, Love is Colorful

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    1. Foi uma dor forte e ainda é, mas hoje mais madura e conformada. É meio egoísta da nossa parte os querer aqui, mesmo sabendo que eles estariam sofrendo... Mas é inevitável não sentir falta.
      Realmente só valorizamos como devíamos quando perdemos e isso é muito triste.
      Beijos e obrigada pelo comentário!

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  10. Que fofura, quanto amor

    Obrigada pela visita

    bjs

    http://ladycatblog1.blogspot.com/

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  11. Nossa, Bella! Esse post me deu até um nó na garganta.
    Gosto muito quando você escreve esses desabafos, são muito emocionantes e essa história em especial foi muito tocante.
    Alzheimer é uma doença muito triste, tanto para a pessoa que sofre quanto para os familiares. Deve ter sido muito difícil. :(
    Beijos.
    Fê Cardoso
    www.baseadoemlivros.blogspot.com.br

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    1. Aí, Fê, nem me fala em nó...
      É uma doença devastadora, foi terrível, mas hoje eles estão descansando ao lado daquEle que nunca nos desampara.
      Beijos!

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  12. que post lindo!
    xoxo
    http://myheartaintabrain.blogspot.pt/

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  13. Que lindo esse teu amor por seus avós Isabella! A minha vó também está com alzheimer, essa doença é tão triste, ver as pessoas que amamos perdendo memórias, esquecendo como comer e mais, só faz aprendermos o quanto somos frágeis em diversas situações.

    Mas que o ano de 2016 seja bom e a gente aprenda muito com ele!

    Beijos, Fran.
    www.delirioscotidianos.com

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    1. Essa doença é mesmo devastadora, ela mata quem a pessoa é antes do próprio corpo morrer.

      Amém, Fran!

      Grande beijo.

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  14. lindo demais, vivemos para sempre no coração de quem nos ama, acredito em amor para toda a vida, acredito que quando duas almas se conectam e para sempre, ao ler seu post, me senti vivendo a cena, passar por esta vida sem experimentar amar e ser amado, deve ser tao sem graça, tao sem cor, tao sem vida, e um risco amar, mas as recompensas fazem tudo valer a pena. Quero me arriscar ate morrer, pois sem amor, para que vivemos? Não me contento em apenas existir, quero viver...

    Parabéns e obrigada por imortalizar esta linda historia de amor

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    1. Concordo com você, sem o amor não somos absolutamente nada! Por ele tudo vale a pena pois somos o que sentimos.
      Muito obrigada pelo seu comentário, beijos!

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